Numa altura em que se fala de Cristiano Ronaldo rumar ao Real Madrid (já se falou mais, é verdade!), novela que ultrapassou as do Benfica no que toca a contratações de jogadores (quem diria!), eu proponho invertermos o bico ao prego e falarmos de FIDELIDADE ao clube. Sim, não é só no casamento que existe a tão designada fidelidade. Também no futebol temos vários casos de "casamentos" para toda a vida (pelo menos enquanto as pernas aguentam...).
Já várias vezes citado pelos colegas de Cristiano Ronaldo, até para lhe servir de exemplo de fidelidade, temos Ryan Giggs, que começou a sua carreira no United em 1990 (com 17 anos) e ainda hoje, com 35 anos, joga com regularidade no clube de Manchester.
Outro grande exemplo de entrega a um clube é Paolo Maldini. Jogador já veterano, com 40 anos, joga no AC Milan desde os 17. Grande defesa esquerdo, mais tarde adaptado a central é já parte integrante da história do clube italiano. Uma curiosidade é a família Maldini ir na 4ª geração seguida de futebolistas no clube (o mais recente é o filho de Paolo Maldini). No AC Milan podemos falar também em Baresi e Costacurta, dois grandes jogadores que serviram o clube desde que se tornaram profissionais de futebol até ao final dos dias enquanto jogadores (entretanto continuam ligados aos departamento de futebol do AC Milan).
E o que dizer de Raúl? Há duas épocas chegou a ser dado como transferível, o melhor marcador de golos do Real Madrid de todos os tempos, mas com a vinda do mais recente treinador (Schuster) voltou aos bons momentos... No Real desde 1992 (entrou para os escalões de formação aos 15 anos) joga ao mais alto nível actualmente com 31 anos.
Na Roma temos Totti. Aos 16 ingressou na Roma e apesar dos constantes assédios de clubes estrangeiros, nunca saiu do clube. Com 32 anos falhou o campeonato da Europa de Selecções por estar lesionado. Capitão, considerado pelos adeptos como um ídolo, "dedicou" toda a sua vida profissional ao clube. Penso que acabará a carreira na AS Roma.
O exemplo de Alan Shearer já é menos mediático que os citados anteriormente. Transferiu-se para o Newcastle aos 26 anos, no pico da sua carreira, ainda a tempo de cumprir várias temporadas recheadas de golos. Jogou até aos 36 anos (10 anos no Newcastle) num clube mediano do campeonato inglês, mas com uma dedicação e sendo uma referência do clube que para mim merece ser referida.
Oliver Kahn não dedicou toda a sua carreira ao Bayern de Munique, mas pouco faltou. Dos 25 aos 39 anos foi titular da baliza do clube germânico. Grande referência do clube não é esquecido pelos adeptos, apesar do seu feitio difícil.
Outro é Steven Gerrard (desde os 9 anos no Liverpool, tem 28 anos). Está num grande clube e apesar de nos últimos anos terem feito campanhas incríveis na Liga dos Campeões, a nível interno não têm ganho nada! Já resistiu ao assédio de Mourinho, na altura no Chelsea. Vamos ver até quando permanece em Anfield.
Frank Lampard é daqueles fieis a um treinador (quando encontram um treinador com o qual se identificam é claro!). É quase certo que vai deixar o Chelsea no fim desta temporada a custo zero, pois encontra-se no último ano de contrato. Só ainda não saiu porque Inter e Chelsea não chegaram a acordo no que respeita a verbas! Mesmo assim, entrou no Chelsea com 22 anos (ainda o Chelsea não era nada enquanto clube) e vai sair, tudo indica, aos 31.
No fim da minha lista, daqueles que me lembro, tenho Guardiola - jogou no Barcelona desde as camadas jovens até aos 33/34 anos e acabou a carreira nas Arábias. Hierro também jogou vários anos no Real, onde foi grande referência e "juntou-se" a Guardiola no fim da sua carreira, jogando ainda o último ano em Inglaterra, no Bolton. Roberto Carlos foi outra grande referência do Real, transferindo-se para o Fenerbahçe, sensivelmente aos 33 anos. Fez 584 jogos no Real Madrid (antes tinha passado pelo Inter de Milão onde apenas fez 34 jogos).
Um dos casos únicos do futebol é Eusébio. Chegou a Portugal com nome de mulher, para "fugir" ao Sporting, fez uma carreira fulgurante, e penso que única, no Benfica e a sua transferência para um grande clube europeu foi travada por Salazar! A bem da nação (e do Glorioso) permaneceu em Portugal, acabando até a sua carreira como jogador no Beira Mar. Dedicação ou obrigação? Se Salazar não tem travado a transferência do Pantera Negra, Eusébio teria rumado ao estrangeiro.
Uns mais do que outros, invoco grandes exemplos de FIDELIDADE. Numa altura em que os jogadores trocam de camisola (de clube) como trocam de cuecas, vale a pena reflectirem sobre algumas destas carreiras de dedicação aos clubes.
Isto para não falar naqueles que vão acabar as suas carreiras no Colónia (clube alemão mediano) ou no Galatasaray (apesar de ser um dos grande clubes da Turquia, o que é o futebol turco? A Turquia é um País com costumes diferentes dos nossos...), etc. atraídos pelo grande contrato em fim de carreira.
NOTA: Joseph Blatter falou há algumas semanas (e já rectificou em parte o que disse...) em escravatura no futebol, dando como exemplo a situação vivida por Cristiano Ronaldo. Como ele próprio já percebeu a comparação foi MUITO infeliz. Apesar de perceber a essência do que disse (que os clubes não deviam "prender" um jogador contrariado ou que quer "experimentar" a realidade de outras Ligas de Futebol), chamar escravo a alguém que ganha 500 mil euros por mês é MUITO mau, para não dizer um insulto!!! Para mim o problema é que continua a ser raro encontrar um jogador de futebol jovem que seja maduro e realista nas suas decisões e não se deixe atrair facilmente por dinheiro ou até por simples promessas de contratos milionários.